A onça-pintada, ou jaguar, ocupou um lugar de imenso destaque na tapeçaria cultural e religiosa das civilizações mesoamericanas. Suas características intrínsecas e seu comportamento eram associados a fenômenos naturais e, mais profundamente, aos conceitos de vida, morte, luz e escuridão, tornando-o um símbolo de poder e transição.
Os maias e a onça-pintada: entre mundos
Para os Maias, a onça-pintada não era apenas um animal, mas um elo entre o mundo visível e o invisível. Acreditava-se que sua lendária capacidade de enxergar na escuridão permitia-lhe transitar entre os reinos, ligando-o diretamente ao submundo e à mortalidade.
Essa reverência se manifesta claramente na arte e na arquitetura maias, onde o felino é recorrente. Um exemplo notável é o trono da onça-pintada vermelha, descoberto em El Castillo, a grande pirâmide de Chichén Itzá, uma estrutura erguida há mais de 1.500 anos que sela a importância histórica do animal.
Símbolo universal de poder político e militar
Em toda a Mesoamérica, o jaguar transcendeu fronteiras culturais para se tornar um símbolo universal de poder político e militar. Ele era amplamente retratado em relevos e esculturas adornando templos e palácios, reafirmando a força dos governantes.
A energia complexa e sagrada do felino — conferida por sua associação com a luz e a escuridão — era transmitida ao governante. Assim, a onça-pintada se estabelecia como o nahual do líder, um alter ego ou uma espécie de animal protetor que reforçava sua autoridade e prestígio.
O ícone do guerreiro corajoso
A onça-pintada também serviu como ícone inspirador para os caçadores e guerreiros mais valentes. Essa admiração resultou na criação das ordens militares de soldados onças-pintadas, cujos membros eram tidos como os mais aclamados e corajosos.
Para elevar sua reputação, deuses, reis, guerreiros e sacerdotes frequentemente adicionavam o epíteto de onça-pintada aos seus nomes. Na civilização Maia, esse prestígio era reforçado pelo fato de que apenas os reis tinham o direito de vestir as peles manchadas do animal, um ato que simbolizava o auge do poder e da linhagem.
O jaguar na cosmologia asteca
Na mitologia dos povos Asteca e Mexica, há cerca de 700 anos, a onça-pintada desempenhou um papel proeminente. Ela era considerada um animal tanto das estrelas quanto da Terra. Ocasionalmente, tocas de jaguares eram encontradas em cavernas, o que as ligava à terra e à fertilidade. Essa conexão é evidenciada pela feroz deusa asteca da terra, Tlaltecuhtli, frequentemente retratada com garras de onça-pintada.
A natureza dupla do felino o ligava intrinsecamente às transições, como o ciclo diário do Sol nascendo e se pondo. Ao longo do tempo, o jaguar foi absorvido por uma complexa mitologia dual, simbolizando simultaneamente a luz e a escuridão, o céu e a terra, encapsulando assim o equilíbrio cósmico e a constante mudança do universo.
