A mineração ilegal (garimpo) é o principal “gargalo” que prejudica o dia a dia e o desenvolvimento socioeconômico da região da Reserva Extrativista (Resex) do Rio Jutaí, conforme relatado por Aldair Paiva, morador da Resex e vice-secretário da Associação de Produtores da Reserva (Asproju).
O garimpo representa uma séria ameaça à saúde, especialmente pelo risco de contaminação por mercúrio nos peixes. A população da reserva muitas vezes receia consumir o peixe do rio, temendo a contaminação.
Impactos das mudanças climáticas na produção
Além da mineração, Aldair Paiva notou mudanças climáticas nos últimos 20 anos que afetam a vida das comunidades. As secas se tornaram muito mais extensas, dificultando o escoamento da produção. Por outro lado, as cheias também causam impactos em algumas comunidades. Paiva, que trabalha como condutor de lancha, conhece bem os cursos d’água da região e percebe as dificuldades crescentes.
Organização e modo de vida na reserva
Caracterização da Resex e comunidades
A Reserva Extrativista (Resex) do Rio Jutaí foi criada em 2002 e seu plano de manejo foi aprovado em 2011. As reservas extrativistas são unidades de conservação de uso sustentável, nas quais as comunidades tradicionais têm exclusividade na exploração dos recursos naturais e gerenciam o território em parceria com o ICMBio.
Cerca de 240 famílias vivem na Resex do Rio Jutaí, distribuídas em 16 comunidades no Rio Jutaí e 11 no Rio Riozinho, que delimita a margem leste da unidade.
A sobrevivência dessas comunidades se baseia principalmente na agricultura de pequena escala (roça) e na pesca, incluindo o manejo de pirarucu, seguindo os limites estabelecidos no plano de manejo.
Em contraste com a Resex, a Estação Ecológica de Jutaí-Solimões é uma unidade de proteção integral, onde apenas atividades de pesquisa e conservação ambiental são permitidas.
Comunidade Marauá e o calor extremo
Na comunidade Marauá, que foi a primeira visitada pelos pesquisadores, vivem 37 famílias. A comunidade é descrita como acolhedora, com casas bem cuidadas e infraestrutura como rede elétrica, internet e um postinho de saúde.
Uma das lideranças locais, o senhor Arnaldo Trajano, conhecido como “Pilha”, vive da produção de banana, mandioca e cará. Ele relata que a floresta está “meio feia” e que está muito mais difícil trabalhar na roça por causa do calor extremo. “Pilha” comenta que não sentia tanta quentura antigamente. Outro impacto percebido é o aumento de doenças, como a dengue, que ele e sua esposa, Maria Leni, contraíram pela primeira vez recentemente.
O valor do trabalho dos pesquisadores
Colaboração e importância científica
Os ribeirinhos veem com bons olhos o trabalho dos pesquisadores na região. Aldair Paiva destaca que a presença dos cientistas é importante para trazer atenção para a região e agregar valor científico ao conhecimento das comunidades tradicionais, que são consideradas as “verdadeiras guardiãs da floresta”.
A experiência transformadora na Amazônia
Os pesquisadores, como o professor Percequillo, valorizam o papel de proporcionar aos seus alunos a experiência de conhecer e se apaixonar pela Amazônia. Ele acredita que “ninguém volta igual” de lá, e que esse “mergulho” em uma nova realidade, cultura e forma de encarar a vida é fundamental para as novas gerações.
A expedição contou com a participação de diversos cientistas, incluindo o biólogo Marcos Angelo Alves Filho (aluno de mestrado no Museu de Zoologia da USP, orientado por Percequillo) e Cibele Rodrigues Bonvicino (pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, especialista em Genética e Taxonomia de mamíferos).
