Em 2020, o Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, anunciou a aquisição do famoso fóssil de 67 milhões de anos conhecido como “Dueling Dinosaurs” (Dinossauros Duelantes). Preservado de forma primorosa após um longo período em mãos privadas, o espécime exibe um Triceratops e um pequeno tiranossauro em uma cena que sugere um combate mortal.
A natureza desse pequeno tiranossauro tem sido motivo de intenso debate na paleontologia. Uma vertente de cientistas sugeria que ele se tratava de um Tyrannosaurus rex jovem, que não havia atingido sua forma adulta. Outros acreditavam que o espécime representava uma espécie distinta, o Nanotyrannus.
O Acesso Científico e as Primeiras Pistas
Com a aquisição pelo museu, o fóssil, que consiste em um esqueleto quase completo da criatura, tornou-se acessível a paleontólogos pela primeira vez. A paleontóloga Zanno, exploradora da National Geographic, recrutou James Napoli, paleontólogo da Universidade Stony Brook, para auxiliar na avaliação do espécime.
Ao analisar o fóssil, Zanno e Napoli notaram rapidamente que “havia muitos sinais de alerta”, nas palavras de Zanno. Características do espécime não se encaixavam nas expectativas de como um T. Rex deveria se desenvolver, nem mesmo de como um animal em geral deveria crescer.
Análise Anatômica Detalhada
A anatomia dos braços do espécime forneceu uma pista crucial. Os braços eram significativamente maiores do que os de um T. Rex adulto, o que, segundo Napoli, indica que “Não há como esses braços encolherem durante o crescimento”.
Outras diferenças significativas foram descobertas. O dinossauro possuía uma cauda mais curta e pernas comparativamente mais longas do que o T. Rex. Além disso, ele tinha um número maior de dentes na mandíbula.
Uma tomografia computadorizada (TC) revelou ainda mais distinções internas, como:
- Nervos cranianos e sistema respiratório diferentes dos encontrados no T. Rex.
- A presença de uma cavidade sinusal extra.
Essas características internas, que geralmente se definem no início do desenvolvimento de um animal, sugerem fortemente que este tiranossauro não estava em curso de se tornar um T. Rex adulto antes de sua morte.
Ossos Confirmam a Idade Adulta
Para determinar a idade e o estágio de desenvolvimento do animal, a equipe retirou seções finas dos ossos para analisar os anéis de crescimento (linhas de crescimento sazonal, semelhantes aos anéis de uma árvore). A análise indicou que o espécime tinha cerca de 20 anos e, portanto, era um adulto, e não um filhote.
Com base nas evidências anatômicas e na idade adulta confirmada, James Napoli afirma: “Não há como defender cientificamente que isso seja um T. Rex“. Ele e Zanno concluíram que a criatura deve ser rotulada como Nanotyrannus lancensis. Essa é a mesma espécie de Nanotyrannus que deu origem ao debate quando foi nomeada pela primeira vez em 1988.
A paleontóloga Woodward Ballard concordou com as descobertas, afirmando que os dados dos pesquisadores demonstram que o espécime estava se aproximando do tamanho adulto, o que fornece um “forte apoio” para chamá-lo de Nanotyrannus. O trabalho agora levanta novas questões sobre a classificação de outros espécimes de tiranossauros.
