
Um estudo recente revelou que o Brasil pode abrigar mais de 400 espécies de cogumelos silvestres comestíveis — uma descoberta que expande o potencial gastronômico, econômico e cultural do país. A pesquisa envolveu 20 especialistas que coletaramamostras em diferentes biomas, revisaram mais de 500 publicações científicas e cruzaram dados genéticos para identificar aqueles com segurança no consumo .
Das 573 variedades analisadas, 86 já possuem consumo comprovado, enquanto outras 323 precisam de estudos adicionais para confirmar sua comestibilidade . Isso representa um avanço significativo na etnomicologia brasileira — área que investiga as relações entre fungos e tradições humanas — e abre caminho para explorar sabores únicos e novas cadeias produtivas.
A pesquisa foi conduzida em três etapas. A primeira envolveu uma extensa revisão bibliográfica de registros históricos e etnográficos, desde coleções acadêmicas até o conhecimento tradicional de comunidades indígenas e rurais . Em seguida, identificou-se a coleta de novas amostras em quatro biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e outros), contemplando 11 estados e mais de 120 expedições . A fase final trouxe a análise molecular e o sequenciamento genético, comparando com bancos de dados internacionais para validar as espécies .
A importância dessa descoberta vai além de listar novos cogumelos: há grande potencial econômico. Algumas espécies já foram cultivadas em laboratório com sucesso e podem se tornar alternativas brasileiras aos tradicionais shiitake, shimeji e champignon . Como essas variedades valorizam climas quentes, é possível expandir a produção em todas as regiões do país, gerando renda em áreas rurais e urbanas.
Outro aspecto empolgante é o crescimento do micoturismo: há iniciativas que oferecem passeios em matas, oficinas de identificação e degustações. Em São Paulo, moradores de Parelheiros colhem cogumelos para consumo próprio ou venda direta a restaurantes especializados . Um desses chefs relata que o cogumelo “chapeleta” tem sabor e textura que encantam clientes mais exigentes .
Além da economia, a pesquisa traz benefícios ambientais e culturais. A classificação das espécies em categorias de comestibilidade — seguras, que exigem preparo ou ainda em análise — ajuda a reduzir casos de intoxicação e promove educação ambiental . O estímulo à coleta consciente e à valorização do conhecimento tradicional, especialmente entre indígenas Yanomami e comunidades locais, reforça o papel dos fungos na cultura alimentar brasileira .
Essa abordagem multidisciplinar abre horizontes para um novo mercado: produtos alimentícios, cosméticos, nutracêuticos e até farmacêuticos, todos derivados dos fungos nativos. Com pesquisa, cultivo e regulação adequados, o país pode se posicionar como referência global em biodiversidade funcional, gerando emprego e preservando biomas.