
A disputa entre o agronegócio e o Ministério do Meio Ambiente sobre o Plano Clima está escalando. A recente defesa do ministério através de uma nota oficial, após intensas críticas da bancada ruralista, expõe a complexidade de conciliar as metas ambientais do Brasil com os interesses de um de seus mais poderosos setores econômicos. O embate revela visões distintas sobre quem deve arcar com a maior responsabilidade na redução de emissões de gases de efeito estufa e como o país deve se posicionar no cenário internacional.
O Plano Nacional sobre Mudança do Clima, em elaboração para ser apresentado na COP-30, foi duramente criticado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Os ruralistas, em um movimento orquestrado, classificaram o documento como uma “autossabotagem” e um ataque direto ao setor. A principal queixa é que o plano atribui ao agronegócio uma carga desproporcional de responsabilidade, com uma meta de redução de 54% nas emissões até 2035. Esse percentual é visto como injusto, especialmente quando comparado a outros setores, como o de energia, que teria permissão para aumentar suas emissões.
O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion, expressou a indignação do grupo, argumentando que o plano vai na contramão dos esforços diplomáticos para defender a imagem do agro no exterior. “É uma sabotagem total, uma autossabotagem para criar palanque ideológico na COP 30. O agro é o grande ativo do Brasil. Não é responsável pelo desmatamento, é responsável pela geração de empregos, renda e conservação1”, disse. A bancada também questiona a metodologia usada pelo governo, apontando para o uso de dados de entidades não oficiais, como o consórcio MapBiomas, e a falta de transparência no modelo de cálculo adotado.
Diante do cenário, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) emitiu uma nota técnica para defender o plano. O documento oficial argumenta que as emissões e remoções de carbono foram cuidadosamente redistribuídas entre os setores, baseadas em um “entendimento entre os diversos setores e ministérios do governo”. Essa afirmação sugere um consenso que, na prática, parece não ter sido plenamente aceito, visto que o próprio Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) teria solicitado alterações ao texto. O Mapa, em sua nota técnica, manifestou preocupação com o impacto que o plano poderia ter na imagem dos produtos brasileiros no exterior, criando barreiras comerciais não tarifárias.